Dei uma lida rápida e, pelo que vi, foram feitos apenas ajustes técnicos e de redação (como era de se esperar), sem qualquer mudança de fato na lei ou suas previsões. Em resumo, trata-se do mesmo texto aprovado no que tange às regras previstas.
Por outro lado, estava hoje mesmo pensando a partir de que data se deveria contar o prazo de oito dias que o PR tem para decidir se manda a lei para avaliação do TC ou não, e isso foi respondido pelo documento que você postou. Como ele tem data de hoje, creio que o prazo se inicie hoje (dia 5/11). Esperemos, então, que até no máximo dia 13/11 (ou 14/11, a depender se o dia de hoje conta ou não) o PR informe sua decisão. Se for para o TC, acho BEM difícil que passe incólume, mesmo eles tendo separado a parte mais cancerosa da lei (a perda da nacionalidade) em um "boi de piranha" à parte, alterando o código penal.
Obrigada @andrelas , quem sabe sim podemos nos encontrar por lá. Afinal é tão próximo. Minha previsão de ida é ainda este ano. Na verdade seria agora em novembro. Mas o shutdown aqui acabou me prejudicando, pois preciso levar uma documentação legalizada e eles atualmente estão trabalhando em documentação enviada em 08/09 e eu enviei a minha 14/10. Não deveria ter mandado pelo correio, mas já foi e tenho que esperar.
@acard08 , Obrigada por suas palavras, e espero mesmo por terras mais serenas.
@Admin , obrigada. Assim que estiver devidamente assentada por lá vou modicar o username.
Eu mesmo aponto na mesma direção que a sua, mas tomei o primeiro passo mais adiantado, já estou trabalhando para uma empresa em Pontevedra e continuo morando na casa que comprei em Portugal, mas a tendência é que no próximo ano eu venda a casa e compre uma em uma zona com clima estável na Espanha, cansei da xenofobia, falta de educação e corrupção extrema do povo daqui.
Quase 7 anos amargando com órgãos públicos falidos e sistema de saúde totalmente quebrado financeiramente e ética 0. Já andei por muitos cantos na Europa e esse pedacinho de nada aqui consegue me assustar a todo o momento.
Boa sorte na sua nova empreitada de vida, grande abraço.
É algo muito difícil de recomendar, cada família tem uma realidade e uma aspiração para os filhos.
No meu caso estou satisfeito com a Irlanda, para minha área de atuação (tecnologia) é o lugar da Europa onde hoje estão as melhores oportunidades e para as crianças é um lugar que é bastante seguro, onde as crianças ainda têm uma rotina de criança brincar no parque e praça, brincar na rua (quando o tempo permite rsrs) e na casa dos amigos, ela obviamente estuda em inglês como primeira língua, a escola é pública e no geral a qualidade é excelente (comparável ou melhor que a particular que eu pagava literalmente uma fortuna em 2020 no Brasil).
Mas é importante lembrar que nada é perfeito e aqui tem seus problemas também:
Mesmo vindo com tudo certinho, os primeiros dois anos de adaptação de um imigrante são cansativos pois você ainda tem um monte de limitações (até tirar carta de motorista, até acertar toda papelada, até aprender como as coisas funcionam etc)
Custo de vida (e principalmente moradia) explodiu desde a pandemia
Mesmo pagando caro, há escassez de imóveis, precisa batalhar muito para conseguir alugar um imóvel
Em regiões de maior demanda as escolas estão com dificuldade de contratar professores (pq o salário não dá conta do aluguel) e por isso em algumas regiões é uma luta conseguir vaga em uma escola
Fora coisas mais subjetivas: a culinária é pobre em variedades e sabores (basicamente igual à inglesa) comparada com a brasileira, à portuguesa ou italiana.
O povo é simpático, em geral aberto a receber gente de fora mas não se engane, não são calorosos como os brasileiros. Você só vai receber um convite a visitar a casa de alguém quando for praticamente "membro da família" rsrsrs e quando for é um evento com hora para começar e terminar (geralmente 2h no máximo). Não existe aquela coisa do Brasil de "vem aqui em casa para um almoço no domingo" e vc chega à 1h para um churrasco e se o papo estiver bom a coisa estica até de noite.
No meu caso o cartão de residência de minha esposa foi emitido rapidamente depois que me tornei português (em 1 mês depois do envio por correio da documentação veio um provisório com validade de 1 ano e após 6 meses o pedido foi aprovado e veio o cartão definitivo válido por 4 anos). Em Portugal para o mesmo processo a AIMA faz os cônjuges de portugueses e de outros europeus passarem constrangimento e ficarem ilegais por mais de ano por pura incompetência e descaso do governo.
Comparado com o restante da Europa a extrema direita aqui ainda não tem a mesma força, mas não me engano é questão de tempo. Tenho visto um aumento preocupante do preconceito, discurso de ódio e inclusive alguns atentados contra centros onde o governo custeia a moradia de "asylum seekers", pessoas que vêm de regiões de conflito como Ucrânia ou países como Siria, Afeganistão e zonas de conflito da África. Uma covardia sem nome pois são pessoas que estão em situação de extrema vulnerabilidade, tentando reconstruir a vida depois de fugir de lugares em guerra ou em que são perseguidos. O discurso da extrema direita é que o número é enorme e explodiu nos últimos anos e essas pessoas estariam esgotando os recursos da segurança social. Uma balela: em todo país haviam 4.000 pessoas nessa condição, depois da pandemia e da guerra na Ucrânia o número subiu para 20.000. Mesmo considerando que se trata de um país pequeno (5 milhões de habitantes) isso não representa nada (0,4% da população), ou seja, é só retórica para começar a campanha de ódio por um alvo mais fácil e depois ampliar o alvo para os imigrantes em geral.
Aqui vale chamar atenção para um ponto de preocupação pois vejo que o governo local está imitando o vergonhoso governo Português no sentido de tentar evitar perder votos para a extrema direita se comportando como se também fossem extremistas: Recentemente o chefe da diplomacia (que era o 1o ministro até 1 ano atrás) resolveu fazer coro à desinformação da extrema direita tratando o pequeno número de pessoas que estão aguardando para ser deportadas como se fosse um número enorme e que a coisa fosse descontrolada (matéria do Irish Times aqui) ,o que é algo facilmente desmentido pelos fatos e pelos números como a própria matéria do jornal mostra.
Enfim, não tem resposta pronta... Te recomendo primeiro definir seus objetivos, prioridades e definir quais são aquelas "duas ou três coisas que você não abre mão" (clima quentinho, ou facilidade do idioma, ou mercado de trabalho etc) e fazer seu estudo país a país como se estivesse decidindo comprar um carro ou uma casa...
Minha intenção desde 2016 era de ir para Portugal. Mas de lá para cá vários fatores me desistimularam. Em primeiro lugar o preço de moradia, depois o crescimento da direita e finalmente também um pouco a xenofobia, que eu até saberia lidar não fossem os dois primeiros fatores. Emfim, não tenho muitas expectativas de que a Espanha será um mar de rosas. Mas dentro do cenário atual, me parece uma opção mais viável. Obrigada e boa sorte a você também nas suas futuras decisões.
apesar de já ter viajado para outros países, minha experiência de residir foi mesmo o Brasil e os EUA. O Brasil já sabemos como é, alguns anos atrás eu diria com certeza os EUA. mas não mais. Com relação aos países da Europa ainda não posso opinar. Assim como o @ecoutinho relatou a experiência dele, alguns outros colegas que residiram em outros países podem te passarm uma idéia melhor.
Vou apenas dar minha opinião com relação aos critérios que me são mais importantes na escolha de um novo país. O mais importante para mim é clima, regime político e idioma. Estes 3 fatores para mim são essenciais, se não me sentir confortável nestes 3 itens não iria estar bem. Quanto a xenofobia, a menos que seja extrema, eu saberia lidar, e encarar qualquer um de igual para igual. Não estou dizendo que seria fácil, mas sim que se valesse a pena monetariamente no caso de oportunidade trabalho e futuro para os filhos, como no seu caso, eu me preparia psicologicamente para esta possibilidade e me adaptaria. Sei que podem acontecer situações bem desagradáveis, mas também sei que muitos imigrantes são muito sensíveis a qualquer bobagem. A verdade é que a discriminação existe em qualquer lugar, inclusive no Brasil. Boa sorte na sua escolha!
Nunca morei fora do Brasil, mas vou dar meu pitaco genérico.
Em relação à escolha do lugar para morar, há quesitos que valem para um país inteiro (idioma especialmente), mas há alguns que, a depender do país, podem variar bastante de uma região para a outra. Portugal é um país muito pequeno e, mesmo assim, há uma diferença marcante entre os portugueses do Norte (mais abertos, mais simpáticos, mas muito menos cosmopolitas e mais conservadores) e os do sul (em especial Lisboa), que são mais reservados, menos "simpáticos", mas um pouco mais cosmopolitas. Em países maiores, como a França por exemplo, essa diferença é bem mais marcante (e diversa) em várias regiões do país. No Reino Unido então nem se fala: é incomparável a personalidade média do escocês com a do inglês (spoiler: o escocês é INFINITAMENTE mais caloroso, esporrento e amável), ou mesmo do inglês do norte (Yorkshire por exemplo) e o do sul (Londres e entorno). Para o clima, idem. O clima do sul da França é completamente diferente do clima de Paris, por exemplo. Imaginem uma pessoa perguntando como é o Brasil em termos de clima, personalidade do povo, etc, e pense em, por exemplo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Rio, São Paulo... Tudo é diferente entre estas regiões: clima, povo, etc. Apesar das dimensões menores, o mesmo vale por lá.
Assim, na medida do possível (financeiramente e em termos de cronograma) o ideal é escolher não especificamente pelo país, mas também pela região, considerando clima, perfil do povo, serviços e infraestrutura, facilidade de locomoção (morando na França, por exemplo, se vai de trem a 80% da Europa ocidental; em Portugal, ou leva-se 30 horas para chegar à Paris de trem, ou se pega um avião), custo de vida, etc. Para quem trabalha, entra também o mercado de trabalho, média salarial...
Outro ponto importantíssimo é a saúde pública. Pelo que tenho pesquisado e lido, a saúde pública (e o setor de saúde em geral, incluindo o privado) na França é bem melhor do que em Portugal, por exemplo. A Alemanha também tinha boa fama mas, de uns anos para cá, parece que tem caído bastante.
Finalmente, o momento de vida é determinante. Tendo a concordar com a @texaslady que, para mim, cara feia é fome, e eu conviveria com certa tranquilidade com uma xenofobia não violenta, mandando a lugares bem específicos quem enchesse muito meu saco. Por outro lado, meu objetivo é me mudar quando me aposentar (não dependerei de trabalho por lá), não tenho filhos (nada de bullying no colégio), e eu e minha esposa temos uma vida mais caseira (não sentirei falta de um grupo de amigos grande). Mas para quem ainda trabalha, para quem tem filhos, para quem preza vida social agitada, essas coisas precisam ser levadas em conta. A xenofobia se manifesta em tudo isso em maior ou menor grau e, portanto, é um fator importante.
O ideal, como disse, é depois de pesquisar, se o cronograma e os recursos permitirem, conhecer pessoalmente as duas ou três regiões que se escolheu e ver como se sente nelas. Claro que uma coisa é visitar e outra é morar (penso muito nisso quando vejo gente dizendo que "quem mora no Rio mora onde outros pensam em passar as férias" 😂), mas mesmo uma visita de uma ou duas semanas, não com o objetivo de turistar mas de conhecer in loco o local, pode ajudar a identificar pros e contras nos quais não se tinha pensado. Eu mesmo tenho feito isso ao longo dos anos, e já descartei opções (ou coloquei outras na lista de possibilidades) com essas visitas.
penso muito nisso quando vejo gente dizendo que "quem mora no Rio mora onde outros pensam em passar as férias" 😂
Off-topic - Isso me lembrou uma situação quase 20 anos atrás, quando o RH da empresa estava no meu pé e me deu um ultimato para tirar as segundas férias vencidas e, não me lembro exatamente por quê, eu estava evitando ao máximo qualquer despesa, então decidi não viajar e fazer algo inusitado, fazer turismo em SP, minha própria cidade, onde nasci, cresci e vivia. 😂 É curioso pois foi uma das férias mais divertidas que tive e acabei conhecendo cantos da cidade que sempre ouvia falar, mas nunca tinha ido visitar, ido a peças de teatro, curtir a boemia da vila madalena e do bexiga (na época além das famosas cantinas italianas havia bares de rock famosos por lá) e visitar lugares do centro como o páteo do colégio, solar da Marquesa de Santos e o edifício do Banespa (aquele que é uma cópia do Empire State de NYC).
Nem do trânsito reclamei pois como "turista" pude me programar para fazer meus programas fora dos horários de pico e curtir como não fazia desde os tempos que era estudante de colégio e vivia com meus pais rsrsrs. Achei muito curioso como a nossa relação com uma cidade é diferente quando você está no "papel" de turista ou de morador.
Sobre a xenofobia. De forma geral eu concordo com com o @andrelas que "cara feia para mim é fome" e com a @texaslady de que há situações sim em que as pessoas exageram um pouco e acabam fazendo uma tempestade por algo que, apesar de nunca poderia acontecer, possivelmente estariam sujeitos até no próprio país de origem.
Entretanto tem dois fatores que é importante avaliar:
1 - O risco/histórico de violência física e se nas vezes que ocorreu o governo local botou panos quentes ou foi atrás e responsabilizou as pessoas. Isso te dá uma indicação se os casos isolados de hoje continuarão assim ou se há o risco de escalar. Infelizmente há lugares em que há uma tendencia ao "deixa disso", o que para mim é inaceitável (diria que Portugal é um deles).
2 - Escolher bem a escola dos filhos e buscar um lugar que seja intolerante com bullying. Isso mesmo dentro do mesmo país varia muito de uma escola para outra. Logo que me mudei a primeira escola da minha filha era uma escola com um Ethos que em teoria privilegiava diversidade e o diálogo com os estudantes, mas como havia uma cultura de resolver absolutamente tudo apenas com diálogo e não aplicar sanções aos estudantes, ela teve uma dificuldade grande pois sofreu certa rejeição no começo. Nem atribuo isso à xenofobia e sim ao fato de que crianças na pré adolescência tendem a fazer isso se não forem direcionadas e corrigidas pelos pais e escola. Depois dessa experiência optamos por mudá-la para uma escola católica com uma disciplina mais rígida (dessas que os alunos andam de terninhos como nos filmes do Harry Potter) e para minha surpresa ela está muito mais feliz. Como a escola é absolutamente intolerante com bullying e pega no pé dos alunos e dos pais quando algum desvio acontece, aplica advertências, suspensão e escala as penalidades em caso de reincidência, as crianças acabam tendo que se enquadrar no comportamento social apropriado mesmo fora da escola. Por incrível que pareça vejo ela e as amigas mais "soltas" que na outra escola e acabou fazendo amizades mais sólidas. Em resumo, está mais feliz.
A xenofobia agora já está nos Outdoors do partido Chega e na TV, por todo lado já se escuta verdadeiros absurdos medievais, só quem vive aqui que sente a real situação. Nada que vejam no fórum, TV ou Youtube conseguirá mostrar a realidade na íntegra. Não temos direitos básicos respeitados, polícia é inútil, sem hospitais em condições, diferente tratamento para nativo e imigrante, etc... Fora esse tanto de falta de respeito com relação a emissão de nacionalidade e residências.
A xenofobia agora já está nos Outdoors do partido Chega e na TV, por todo lado
É exatamente esse tipo de tolerância com criminosos como esse André Desventura e essa milícia fascista que ele chama de partido político que para mim acende uma luz vermelha. Se o país tolera que alguém faça isso, mesmo que sejam só palavras, cria-se uma cultura de leniência que também vai encarar como algo normal quando partirem para a violência física de fato.
Eu sou conservador, mas nunca aceitaria ou daria aval para tamanha bestialidade, os extremos de qualquer vertente política só traz sofrimento e dor. A coerência, inteligência e harmonia está sempre no meio a meio, nunca nos extremos. Tanto um quanto o outro trouxeram mortes e fome mundo afora. Temos que nos unir e não segregar pessoas. A jogada dos políticos é separar entre esquerda e direita para ficarmos fracos. O povo tem que ser unido porque ninguém vive sozinho, dependemos uns dos outros.
Estou acompanhando os comentários de vocês sobre xenofobia e achei curioso, porque meu pai contava que a avó dele, uma portuguesa legítima, tinha certa implicância com os brasileiros, mesmo vivendo aqui no Brasil. Eu, pessoalmente, não tive muito contato com portugueses; tenho vizinhos portugueses, por exemplo, e todos são muito amáveis. Poucos, ao longo da vida, me trataram mal. Mas, logicamente, estou no meu país, e eles no país dos outros, então a dinâmica muda.
Também não conheço Portugal. Estava planejando, após resolver minha documentação, ir morar lá, mas é uma decisão que preciso analisar com cautela.
Portugal e Brasil mantêm uma relação que eu descreveria como a de uma família com um passado complicado, mas laços fortes. No final do século XIX e início do XX, Portugal via o Brasil como um destino de emigração e uma espécie de irmão mais rico do Atlântico Sul. Pelo que pesquisei, cerca de 1,5 milhão de portugueses emigraram para o Brasil, principalmente para o Rio de Janeiro, São Paulo e o Nordeste.
Acredito que muitos deles tenham sofrido preconceito aqui, embora talvez não tanto quanto os brasileiros sofrem atualmente em Portugal. A história é curiosa, e eu me considero leigo no assunto, mas o tema desperta muito meu interesse. Gostaria de compreender melhor as raízes dessa xenofobia, que parece persistir mesmo entre povos com tantas afinidades culturais e históricas.
@LuanParanhos , na minha (absolutamente leiga e empírica) opinião, as desculpas usadas pelos xenófobos ao longo dos tempos não são sempre as mesmas. No passado houve outras expressões de xenofobia (italianos que moravam no Brasil na durante a segunda guerra, ou japoneses que moravam nos EUA, sofreram perseguição, por exemplo, porque eram "inimigos"). Assim, não vou abordar o passado (seria papo para dias), falo apenas do hoje.
Hoje existem (de novo, na minha opinião) duas raízes principais para a xenofobia: a "religiosa" (uso aspas porque ela não é BEM religiosa, é política/econômica/busca de poder disfarçada de religiosa, mas isso é outro tema que não tem nada a ver com Brasil e Portugal entre si) e a baseada em percepção de "superioridade" de um povo sobre o outro, seja por questões socioeconômicas, seja por questões culturais, seja por simples e puro preconceito.
Mas essa "superioridade", além de ser uma crença falsa, é uma faca de dois gumes. Pois, vejamos:
Os Portugueses são tidos, em boa parte da Europa ocidental, como os primos pobres, menos desenvolvidos e menos educados (NÃO estou dizendo que são, por favor, estou dizendo que existe este PRECONCEITO no resto da Europa ocidental). Um exemplo clássico é a França, onde há uma razoável imigração portuguesa. Não vou dizer que existe xenofobia ativa com os portugueses por lá, pois os xenófobos franceses tem outras culturas e etnias como alvo na frente da sua fila de ignorância, mas há preconceito claro. Um exemplo forte é um primo distante meu que nasceu na França de pai português e mãe francesa, e fez piadas uma vez enquanto conversava comigo, piadas que não me pareceram só piadas, mas a opinião dele: que os portugueses em França trabalhavam em empregos que exigiam pouco estudo, que as mulheres não se arrumavam, que os homens eram mal educados, etc. Veja bem, ele é FILHO de português, mas ecoava o preconceito que uma parte dos franceses têm com eles porque nasceu lá. Falava até mesmo do pai dele em tom jocoso...
Daí, pegamos os brasileiros em Portugal... Somos o que, para parte deles? Mal-educados, subdesenvolvidos, menos preparados, "falamos errado", etc, etc.
Agora, aqui no Brasil, qual a opinião dos xenófobos brasileiros (eles existem aos montes) não só sobre estrangeiros de países da América Latina, mas também sobre BRASILEIROS de estados menos ricos? Pois é, a mesma coisa. E tenho certeza de que nestes países sul-americanos também existe preconceito com outros povos, com as mesmas desculpas.
Em suma: a xenofobia é a necessidade de diminuir um outro grupo de pessoas para se sentir um pouco melhor do que se sente; é que nem aquele colega incompetente do trabalho que precisa fazer sua caveira para parecer menos incompetente. E é por isso que ela é tão facilmente manipulada pelos Venturas, Trumps, Farages e afins, pois é muito mais fácil inventar um Judas para o povo que sofre malhar do que encontrar soluções reais para os sofrimentos desse povo.
CLARO que estou sendo reducionista. CLARO que existem outras questões práticas e reais que podem impactar o sentimento de um povo em relação aos estrangeiros que moram no "seu" país. Mas, em 99% das vezes, há uma poeira de realidade que é transformada numa montanha de mentiras por interesses políticos e econômicos. E, em minha opinião, é isso o que tem acontecido: os imigrantes são o bode expiatório de um país que tem salários baixíssimos perante seus vizinhos, governos sucessivos que não atacaram os problemas como deveriam, que é um país eminentemente agricultural num mundo tecnológico, e que tem um partido de gente MUITO sagaz e sem qualquer escrúpulo que distorce todas essas justas insatisfações e as utiliza como arma, colocando a culpa nos sul-asiáticos, nos Roma (que os xenófobos chamam de "ciganos" em tom depreciativo) e nos brasileiros. Afinal, o objetivo é o poder pelo poder, não para efetivamente fazer algo, até porque são incompetentes por natureza e não conseguem compreender que não há soluções simples para problemas complexos.
Estou acompanhando os comentários de vocês sobre xenofobia e achei curioso, porque meu pai contava que a avó dele, uma portuguesa legítima, tinha certa implicância com os brasileiros, mesmo vivendo aqui no Brasil. Eu, pessoalmente, não tive muito contato com portugueses; tenho vizinhos portugueses, por exemplo, e todos são muito amáveis. Poucos, ao longo da vida, me trataram mal. Mas, logicamente, estou no meu país, e eles no país dos outros, então a dinâmica muda.
Eu sempre frequentei as associações e festas da comunidade portuguesa em SP, era sócio e frequentava na infância e adolescência a Associação Portuguesa de Desportos (a famosa Lusa, no bairro do Canindé). Nunca vivi em Portugal, apenas fiz viagens a turismo. O que posso dizer é que, como na maioria dos lugares, a grande maioria das pessoas é simpática, te recebe bem, não é preconceituosa e muitas vezes dizer que é do Brasil vira um bom "quebra gelo" para uma conversa.
O problema é que vivemos em um tempo em que a minoria que é preconceituosa, que antes se sentia constrangida e guardava seu ódio para si, está se sentindo encorajada a sair do armário.
A violência física é apenas o exemplo mais extremo, mas uma pessoa xenófoba ou contaminada pelo discurso de ódio pode fazer coisas que podem ser desde a simples ofensa, que se resolve ignorando respondendo com ironia ou simplesmente levantando o dedo do meio, até coisas mais veladas mas que podem ser muito danosas como por exemplo mentir dizendo que o imóvel que você quer alugar já está fechado com outro inquilino, te preterir numa entrevista de emprego por conta de você "falar brasileiro", te colocar no final de uma "waiting list" para um agendamento médico, postergar indefinidamente seu agendamento para conseguir aquele documento que vc precisa para garantir seu emprego etc.
Te diria que no Brasil a maioria das pessoas, que são negras ou pardas, vive isso no dia a dia, mesmo sendo brasileiras, mas nós luso descendentes, e outras da minoria branca no Brasil, não somos vítimas disso não notamos.
Agora, aqui no Brasil, qual a opinião dos xenófobos brasileiros (eles existem aos montes) não só sobre estrangeiros de países da América Latina, mas também sobre BRASILEIROS de estados menos ricos? Pois é, a mesma coisa. E tenho certeza de que nestes países sul-americanos também existe preconceito com outros povos, com as mesmas desculpas.
Não tinha lido seu post. Acho esse exemplo perfeito. Em SP, durante minha infância e adolescência, havia um preconceito enorme contra migrantes nordestinos, que os xenófobos de plantão chamavam de "baianos" independente de serem de Salvador, de Recife ou Fortaleza. É insano pois só na cabeça de alguém com a cognição extremamente prejudicada dizer que uma pessoa é da terra que nos deu Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Jorge Amado e Castro Alves possa ser ofensivo, mas xenófobos não prezam pela racionalidade.
Outro exemplo que acho que vale citar, me lembro que na minha infância e até na adolescência eu evitava dizer para amigos da escola que era de família portuguesa, por sempre havia aquela coisa pejorativa de que "português é burro", tão arraigada nas piadas que eram populares no passado. Parece uma bobagem, mas só o fato de uma criança ter vergonha de dizer a origem da família diz muito.
Enfim, racismo e xenofobia infelizmente sempre estiveram entre nós o problema é que, se por um breve período ela era vista como algo socialmente reprovável, agora voltou a ser socialmente aceitável e está sendo ativamente estimulada. Isso é perigoso e não termina bem.
“Só resta ir dormir na porta da AIMA”, diz pianista brasileira, cujos dados “sumiram”
Com 38 anos de carreira em Portugal, a professora Lilian Kopke denuncia a lentidão dos serviços de imigração e o aumento da hostilidade aos estrangeiros.
A história da pianista e professora Lilian Kopke, 60 anos, em Portugal começou em 1987, quando decidiu deixar São Paulo para estudar música em Lisboa. Trinta e oito anos depois, ela segue lecionando no Conservatório Nacional, mas enfrenta novamente entraves burocráticos e sociais que encontrou ao chegar. O caso foi revelado pelo site Ópera Mundi e o PÚBLICO Brasil conversou com Lilian.
Quase quatro décadas depois, a professora vive uma sensação de impasse. Seu título de residência venceu em 15 de janeiro de 2025, e ela diz que a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) não localizou os dados dela, para renovar o documento. “Eles já nem aceitam mais os meus pedidos. Os telefones não funcionam e, pelo e-mail geral, ninguém responde. Não há com quem falar. Só resta dormir na porta da AIMA — e eu não vou fazer isso”.
Sem o documento válido, Lilian enfrenta vários transtornos, como por exemplo estar impedida de deixar o país, porque corre o risco de ser barrada no aeroporto. “Sair de Portugal é um problema, porque só tenho o passaporte brasileiro. O país vai me exigir a passagem de volta e ao chegar aqui não há como explicar na imigração que a AIMA perdeu meus documentos”.
“A situação atual é bem parecida com os anos 1980”, compara. “Vim estudar, mas não consegui o visto de estudante no Consulado Português em São Paulo, mesmo tendo feito o pedido um ano antes. Entrei como turista e precisei iniciar outro processo de visto já em Portugal”.
Em 1988, Lilian começou a trabalhar como pianista no Conservatório Nacional, mas o contrato foi interrompido porque ela possuía apenas passaporte brasileiro. A regularização só ocorreu graças à ajuda da Embaixada do Brasil. “Na altura éramos pouquíssimos brasileiros vivendo aqui. Tive ajuda direta do embaixador Alberto Costa e Silva, que acelerou meu processo no SEF.”
Com isso, conquistou a autorização de residência permanente, renovável a cada cinco anos e o Estatuto de igualdade de direitos e deveres, que lhe permite ocupar cargos públicos. Mesmo assim, o preconceito persistiu. “Passados cerca de 8 ou 9 anos, com contratos anuais, chegou minha vez de entrar para o “quadro da escola”. Outra vez problema: não levaram em consideração o Estatuto e justificaram a minha ausência nas listas de colocação no quadro da escola, pelo fato de ser brasileira. Outra vez recorri à Embaixada. Deu certo”.
Apesar das dificuldades, Lilian mantém o vínculo com Portugal, mas diz que vai regressar ao Brasil. “Eu vou voltar, e vai ser bom. Claro que as coisas podiam ter corrido de outra forma, mas nunca quis ter a nacionalidade portuguesa”. A professora explica que optou por permanecer sob o Tratado de Porto Seguro, que prevê o estatuto de igualdade de direitos e deveres para os brasileiros que vivem em Portugal e portugueses que vivem no Brasil. “Escolhi viver aqui sem pedir a nacionalidade porque sempre senti que é muito difícil ser totalmente aceito. Você é de fora e vai ser sempre de fora”. Mesmo após décadas no país, ela sente uma vigilância velada. “Quando fui diretora do Conservatório Nacional, senti que podia estar naquele cargo, mas era policiada. É um confiar, mas desconfiando”.
Ao longo de quase quatro décadas, Lilian construiu uma trajetória na área da música. Trabalhou em conservatórios de Almada, Setúbal e Lisboa, além de colaborações com escolas de dança, teatro e grupos artísticos. “Foi desafiador chegar sozinha a Portugal, sem família e sem conhecer ninguém. Trabalhei muito, fiz amigos e sou muito grata pela minha vida profissional aqui”. Licenciada em música no Brasil e pós-graduada em administração escolar em Portugal, ela soma quase quatro décadas de ensino e produção cultural.
Xenofobia
As experiências positivas, porém, convivem com momentos de dor. Lilian relata episódios de xenofobia, tanto pessoais quanto dirigidos aos filhos, nascidos em Portugal. “Portugal tem um marco: antes e depois do crescimento da extrema-direita. Antes, as pessoas não se sentiam à vontade para expressar esse sentimento horrível. Hoje, ficou normalizado”.
Um dos momentos mais duros foi um e-mail ofensivo recebido de um colega, com comentários depreciativos sobre o “terceiro mundo”. “Era o tipo de xenofobia aristocrática, onde o homem europeu é o máximo da perfeição e todo o resto é inferior. Entrei com um processo, mas foi arquivado, porque aqui a xenofobia não é crime”.
Segundo Lilian, o cenário se agravou. Ela diz, por exemplo, que há três anos seria impensável ver um cartaz na rua dizendo “Isto aqui não é Bangladesh’”. Entretanto, mesmo diante do desencanto, Lilian acredita que a sociedade portuguesa pode evoluir. “Vai levar tempo para as pessoas perceberem que o problema delas não é o imigrante, e sim a saúde, a habitação, as grávidas que têm filhos nas ambulâncias e a dependência do turismo”.
@andrelas poxa, quase 40 anos vivendo em Portugal... Um absurdo que tenha que passar por isso. Dá pra dizer com certeza que é mais portuguesa do que brasileira...
Agora, cada um tem suas próprias razões, mas ela tem direito a tirar a cidadania por tempo de residência, e não passar por tudo isso...
Eu vi uma matéria sobre ela em um jornal brasileiro.
Concordo que ela poderia ter pedido cidadania antes, mas como vc disse: cada um tem suas razões para querer ou não. Salvo engano, se ela pedir nacionalidade por tempo de residência agora, terá problemas na consulta a entidades externas pois está “ilegalmente” em Pt.
Acho o Estado português especialmente covarde e cruel por fazer as pessoas cairem na ilegalidade quando estão, mesmo com muito sacrifício, diligentemente tentando manter a situação regular.
@LeoSantos, sim, muito bons. Outro detalhe da matéria é que aparentemente o prazo decisório do PR ainda não começou a contar porque a lei ainda não foi enviada oficialmente a ele.
A matéria diz que ele tem 20 dias para decidir, mas este é o prazo decisório para promulgação ou veto. O prazo para decidir se manda ou não para análise do TC é, até onde sei, de 8 dias, a contar da data oficial de recebimento da lei, que ainda não ocorreu.
Lendo a matéria apontada pelo @andrelas, esse trecho me deixou preocupado, pois não havia visto essa discussão:
"Outro ponto abordado na carta refere-se à atribuição da nacionalidade originária aos netos de portugueses, que passa a depender de condições semelhantes às exigidas a estrangeiros que pedem a naturalização, como a residência em Portugal."
Isso realmente existe? Netos vão precisar morar em Portugal?
Um absurdo, já está difícil pedir visto para residência, ou seja, um meio de barrar todas as possibilidades do neto ter direito, que já é visto com pouco caso. Decepcionada!
@Matheusrps netos não vão precisar morar em Portugal.
O texto ficou ambíguo, mas o que a reportagem diz é que novas exigências serão adicionadas à nacionalidade pelo artigo 1 al. D, atribuição para netos, assim como é exigido para a naturalização; como a por tempo de residência. As exigências seguem abaixo; note que morar em Portugal seria a alínea b) que não está inclusa para netos:
c) Comprovarem, através de teste ou de certificado, conhecer
suficientemente a língua e a cultura portuguesas, a história e os símbolos
nacionais;
d) Conhecerem suficientemente os direitos e deveres fundamentais
inerentes à nacionalidade portuguesa e a organização política do Estado
português;
e) Declararem solenemente a sua adesão aos princípios fundamentais do
Estado de direito democrático;
f) Não terem sido condenados, com trânsito em julgado da decisão judicial,
com pena de prisão igual ou superior a 2 anos, por crime punível segundo
a lei portuguesa;
g) Não constituírem perigo ou ameaça para a segurança ou a defesa
nacional, nomeadamente pelo envolvimento em atividades relacionadas
com a prática de terrorismo, criminalidade violenta, especialmente
violenta ou altamente organizada;
h) Não sejam destinatários de medidas restritivas aprovadas pela
Organização das Nações Unidas ou pela União Europeia, na aceção da
Lei n.º 97/2017, de 23 de agosto;
Comentários
E se precisar de uma alteração de username, é só falar. :)
Et tu, @Admin ? 🤣
@texaslady Bom recomeço! Que vc continue nos abrilhantando com seu conhecimento, agora em terras mais serenas.
@andrelas Saiu o texto da redação final que foi enviado ao Presidente da Assembleia da República.
@PH86 , obrigado!
Dei uma lida rápida e, pelo que vi, foram feitos apenas ajustes técnicos e de redação (como era de se esperar), sem qualquer mudança de fato na lei ou suas previsões. Em resumo, trata-se do mesmo texto aprovado no que tange às regras previstas.
Por outro lado, estava hoje mesmo pensando a partir de que data se deveria contar o prazo de oito dias que o PR tem para decidir se manda a lei para avaliação do TC ou não, e isso foi respondido pelo documento que você postou. Como ele tem data de hoje, creio que o prazo se inicie hoje (dia 5/11). Esperemos, então, que até no máximo dia 13/11 (ou 14/11, a depender se o dia de hoje conta ou não) o PR informe sua decisão. Se for para o TC, acho BEM difícil que passe incólume, mesmo eles tendo separado a parte mais cancerosa da lei (a perda da nacionalidade) em um "boi de piranha" à parte, alterando o código penal.
Obrigada @andrelas , quem sabe sim podemos nos encontrar por lá. Afinal é tão próximo. Minha previsão de ida é ainda este ano. Na verdade seria agora em novembro. Mas o shutdown aqui acabou me prejudicando, pois preciso levar uma documentação legalizada e eles atualmente estão trabalhando em documentação enviada em 08/09 e eu enviei a minha 14/10. Não deveria ter mandado pelo correio, mas já foi e tenho que esperar.
@acard08 , Obrigada por suas palavras, e espero mesmo por terras mais serenas.
@Admin , obrigada. Assim que estiver devidamente assentada por lá vou modicar o username.
@texaslady
Eu mesmo aponto na mesma direção que a sua, mas tomei o primeiro passo mais adiantado, já estou trabalhando para uma empresa em Pontevedra e continuo morando na casa que comprei em Portugal, mas a tendência é que no próximo ano eu venda a casa e compre uma em uma zona com clima estável na Espanha, cansei da xenofobia, falta de educação e corrupção extrema do povo daqui.
Quase 7 anos amargando com órgãos públicos falidos e sistema de saúde totalmente quebrado financeiramente e ética 0. Já andei por muitos cantos na Europa e esse pedacinho de nada aqui consegue me assustar a todo o momento.
Boa sorte na sua nova empreitada de vida, grande abraço.
@diegomendes23
seria um problema para você dar um pouco mais de detalhes de algumas situações?
não tenho lá muita cara de europeu , estou mais para índio, sempre tive receio da questão de racismo e xenofobia comigo e com meus filhos
@texaslady e @ecoutinho
vocês também parecem ser bem andados pelo mundo , se pudessem escolher um país para criar crianças ? Onde seria ?
@marcelloamr
É algo muito difícil de recomendar, cada família tem uma realidade e uma aspiração para os filhos.
No meu caso estou satisfeito com a Irlanda, para minha área de atuação (tecnologia) é o lugar da Europa onde hoje estão as melhores oportunidades e para as crianças é um lugar que é bastante seguro, onde as crianças ainda têm uma rotina de criança brincar no parque e praça, brincar na rua (quando o tempo permite rsrs) e na casa dos amigos, ela obviamente estuda em inglês como primeira língua, a escola é pública e no geral a qualidade é excelente (comparável ou melhor que a particular que eu pagava literalmente uma fortuna em 2020 no Brasil).
Mas é importante lembrar que nada é perfeito e aqui tem seus problemas também:
Comparado com o restante da Europa a extrema direita aqui ainda não tem a mesma força, mas não me engano é questão de tempo. Tenho visto um aumento preocupante do preconceito, discurso de ódio e inclusive alguns atentados contra centros onde o governo custeia a moradia de "asylum seekers", pessoas que vêm de regiões de conflito como Ucrânia ou países como Siria, Afeganistão e zonas de conflito da África. Uma covardia sem nome pois são pessoas que estão em situação de extrema vulnerabilidade, tentando reconstruir a vida depois de fugir de lugares em guerra ou em que são perseguidos. O discurso da extrema direita é que o número é enorme e explodiu nos últimos anos e essas pessoas estariam esgotando os recursos da segurança social. Uma balela: em todo país haviam 4.000 pessoas nessa condição, depois da pandemia e da guerra na Ucrânia o número subiu para 20.000. Mesmo considerando que se trata de um país pequeno (5 milhões de habitantes) isso não representa nada (0,4% da população), ou seja, é só retórica para começar a campanha de ódio por um alvo mais fácil e depois ampliar o alvo para os imigrantes em geral.
Aqui vale chamar atenção para um ponto de preocupação pois vejo que o governo local está imitando o vergonhoso governo Português no sentido de tentar evitar perder votos para a extrema direita se comportando como se também fossem extremistas: Recentemente o chefe da diplomacia (que era o 1o ministro até 1 ano atrás) resolveu fazer coro à desinformação da extrema direita tratando o pequeno número de pessoas que estão aguardando para ser deportadas como se fosse um número enorme e que a coisa fosse descontrolada (matéria do Irish Times aqui) ,o que é algo facilmente desmentido pelos fatos e pelos números como a própria matéria do jornal mostra.
Enfim, não tem resposta pronta... Te recomendo primeiro definir seus objetivos, prioridades e definir quais são aquelas "duas ou três coisas que você não abre mão" (clima quentinho, ou facilidade do idioma, ou mercado de trabalho etc) e fazer seu estudo país a país como se estivesse decidindo comprar um carro ou uma casa...
Boa sorte
@diegomendes23 ,
Minha intenção desde 2016 era de ir para Portugal. Mas de lá para cá vários fatores me desistimularam. Em primeiro lugar o preço de moradia, depois o crescimento da direita e finalmente também um pouco a xenofobia, que eu até saberia lidar não fossem os dois primeiros fatores. Emfim, não tenho muitas expectativas de que a Espanha será um mar de rosas. Mas dentro do cenário atual, me parece uma opção mais viável. Obrigada e boa sorte a você também nas suas futuras decisões.
@marcelloamr ,
apesar de já ter viajado para outros países, minha experiência de residir foi mesmo o Brasil e os EUA. O Brasil já sabemos como é, alguns anos atrás eu diria com certeza os EUA. mas não mais. Com relação aos países da Europa ainda não posso opinar. Assim como o @ecoutinho relatou a experiência dele, alguns outros colegas que residiram em outros países podem te passarm uma idéia melhor.
Vou apenas dar minha opinião com relação aos critérios que me são mais importantes na escolha de um novo país. O mais importante para mim é clima, regime político e idioma. Estes 3 fatores para mim são essenciais, se não me sentir confortável nestes 3 itens não iria estar bem. Quanto a xenofobia, a menos que seja extrema, eu saberia lidar, e encarar qualquer um de igual para igual. Não estou dizendo que seria fácil, mas sim que se valesse a pena monetariamente no caso de oportunidade trabalho e futuro para os filhos, como no seu caso, eu me preparia psicologicamente para esta possibilidade e me adaptaria. Sei que podem acontecer situações bem desagradáveis, mas também sei que muitos imigrantes são muito sensíveis a qualquer bobagem. A verdade é que a discriminação existe em qualquer lugar, inclusive no Brasil. Boa sorte na sua escolha!
Nunca morei fora do Brasil, mas vou dar meu pitaco genérico.
Em relação à escolha do lugar para morar, há quesitos que valem para um país inteiro (idioma especialmente), mas há alguns que, a depender do país, podem variar bastante de uma região para a outra. Portugal é um país muito pequeno e, mesmo assim, há uma diferença marcante entre os portugueses do Norte (mais abertos, mais simpáticos, mas muito menos cosmopolitas e mais conservadores) e os do sul (em especial Lisboa), que são mais reservados, menos "simpáticos", mas um pouco mais cosmopolitas. Em países maiores, como a França por exemplo, essa diferença é bem mais marcante (e diversa) em várias regiões do país. No Reino Unido então nem se fala: é incomparável a personalidade média do escocês com a do inglês (spoiler: o escocês é INFINITAMENTE mais caloroso, esporrento e amável), ou mesmo do inglês do norte (Yorkshire por exemplo) e o do sul (Londres e entorno). Para o clima, idem. O clima do sul da França é completamente diferente do clima de Paris, por exemplo. Imaginem uma pessoa perguntando como é o Brasil em termos de clima, personalidade do povo, etc, e pense em, por exemplo, Recife, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Rio, São Paulo... Tudo é diferente entre estas regiões: clima, povo, etc. Apesar das dimensões menores, o mesmo vale por lá.
Assim, na medida do possível (financeiramente e em termos de cronograma) o ideal é escolher não especificamente pelo país, mas também pela região, considerando clima, perfil do povo, serviços e infraestrutura, facilidade de locomoção (morando na França, por exemplo, se vai de trem a 80% da Europa ocidental; em Portugal, ou leva-se 30 horas para chegar à Paris de trem, ou se pega um avião), custo de vida, etc. Para quem trabalha, entra também o mercado de trabalho, média salarial...
Outro ponto importantíssimo é a saúde pública. Pelo que tenho pesquisado e lido, a saúde pública (e o setor de saúde em geral, incluindo o privado) na França é bem melhor do que em Portugal, por exemplo. A Alemanha também tinha boa fama mas, de uns anos para cá, parece que tem caído bastante.
Finalmente, o momento de vida é determinante. Tendo a concordar com a @texaslady que, para mim, cara feia é fome, e eu conviveria com certa tranquilidade com uma xenofobia não violenta, mandando a lugares bem específicos quem enchesse muito meu saco. Por outro lado, meu objetivo é me mudar quando me aposentar (não dependerei de trabalho por lá), não tenho filhos (nada de bullying no colégio), e eu e minha esposa temos uma vida mais caseira (não sentirei falta de um grupo de amigos grande). Mas para quem ainda trabalha, para quem tem filhos, para quem preza vida social agitada, essas coisas precisam ser levadas em conta. A xenofobia se manifesta em tudo isso em maior ou menor grau e, portanto, é um fator importante.
O ideal, como disse, é depois de pesquisar, se o cronograma e os recursos permitirem, conhecer pessoalmente as duas ou três regiões que se escolheu e ver como se sente nelas. Claro que uma coisa é visitar e outra é morar (penso muito nisso quando vejo gente dizendo que "quem mora no Rio mora onde outros pensam em passar as férias" 😂), mas mesmo uma visita de uma ou duas semanas, não com o objetivo de turistar mas de conhecer in loco o local, pode ajudar a identificar pros e contras nos quais não se tinha pensado. Eu mesmo tenho feito isso ao longo dos anos, e já descartei opções (ou coloquei outras na lista de possibilidades) com essas visitas.
@andrelas
penso muito nisso quando vejo gente dizendo que "quem mora no Rio mora onde outros pensam em passar as férias" 😂
Off-topic - Isso me lembrou uma situação quase 20 anos atrás, quando o RH da empresa estava no meu pé e me deu um ultimato para tirar as segundas férias vencidas e, não me lembro exatamente por quê, eu estava evitando ao máximo qualquer despesa, então decidi não viajar e fazer algo inusitado, fazer turismo em SP, minha própria cidade, onde nasci, cresci e vivia. 😂 É curioso pois foi uma das férias mais divertidas que tive e acabei conhecendo cantos da cidade que sempre ouvia falar, mas nunca tinha ido visitar, ido a peças de teatro, curtir a boemia da vila madalena e do bexiga (na época além das famosas cantinas italianas havia bares de rock famosos por lá) e visitar lugares do centro como o páteo do colégio, solar da Marquesa de Santos e o edifício do Banespa (aquele que é uma cópia do Empire State de NYC).
Nem do trânsito reclamei pois como "turista" pude me programar para fazer meus programas fora dos horários de pico e curtir como não fazia desde os tempos que era estudante de colégio e vivia com meus pais rsrsrs. Achei muito curioso como a nossa relação com uma cidade é diferente quando você está no "papel" de turista ou de morador.
@diegomendes23
Sobre a xenofobia. De forma geral eu concordo com com o @andrelas que "cara feia para mim é fome" e com a @texaslady de que há situações sim em que as pessoas exageram um pouco e acabam fazendo uma tempestade por algo que, apesar de nunca poderia acontecer, possivelmente estariam sujeitos até no próprio país de origem.
Entretanto tem dois fatores que é importante avaliar:
1 - O risco/histórico de violência física e se nas vezes que ocorreu o governo local botou panos quentes ou foi atrás e responsabilizou as pessoas. Isso te dá uma indicação se os casos isolados de hoje continuarão assim ou se há o risco de escalar. Infelizmente há lugares em que há uma tendencia ao "deixa disso", o que para mim é inaceitável (diria que Portugal é um deles).
2 - Escolher bem a escola dos filhos e buscar um lugar que seja intolerante com bullying. Isso mesmo dentro do mesmo país varia muito de uma escola para outra. Logo que me mudei a primeira escola da minha filha era uma escola com um Ethos que em teoria privilegiava diversidade e o diálogo com os estudantes, mas como havia uma cultura de resolver absolutamente tudo apenas com diálogo e não aplicar sanções aos estudantes, ela teve uma dificuldade grande pois sofreu certa rejeição no começo. Nem atribuo isso à xenofobia e sim ao fato de que crianças na pré adolescência tendem a fazer isso se não forem direcionadas e corrigidas pelos pais e escola. Depois dessa experiência optamos por mudá-la para uma escola católica com uma disciplina mais rígida (dessas que os alunos andam de terninhos como nos filmes do Harry Potter) e para minha surpresa ela está muito mais feliz. Como a escola é absolutamente intolerante com bullying e pega no pé dos alunos e dos pais quando algum desvio acontece, aplica advertências, suspensão e escala as penalidades em caso de reincidência, as crianças acabam tendo que se enquadrar no comportamento social apropriado mesmo fora da escola. Por incrível que pareça vejo ela e as amigas mais "soltas" que na outra escola e acabou fazendo amizades mais sólidas. Em resumo, está mais feliz.
@ecoutinho
A xenofobia agora já está nos Outdoors do partido Chega e na TV, por todo lado já se escuta verdadeiros absurdos medievais, só quem vive aqui que sente a real situação. Nada que vejam no fórum, TV ou Youtube conseguirá mostrar a realidade na íntegra. Não temos direitos básicos respeitados, polícia é inútil, sem hospitais em condições, diferente tratamento para nativo e imigrante, etc... Fora esse tanto de falta de respeito com relação a emissão de nacionalidade e residências.
Portugal não compensa nem para passear.
@diegomendes23
A xenofobia agora já está nos Outdoors do partido Chega e na TV, por todo lado
É exatamente esse tipo de tolerância com criminosos como esse André Desventura e essa milícia fascista que ele chama de partido político que para mim acende uma luz vermelha. Se o país tolera que alguém faça isso, mesmo que sejam só palavras, cria-se uma cultura de leniência que também vai encarar como algo normal quando partirem para a violência física de fato.
@ecoutinho
Eu sou conservador, mas nunca aceitaria ou daria aval para tamanha bestialidade, os extremos de qualquer vertente política só traz sofrimento e dor. A coerência, inteligência e harmonia está sempre no meio a meio, nunca nos extremos. Tanto um quanto o outro trouxeram mortes e fome mundo afora. Temos que nos unir e não segregar pessoas. A jogada dos políticos é separar entre esquerda e direita para ficarmos fracos. O povo tem que ser unido porque ninguém vive sozinho, dependemos uns dos outros.
Estou acompanhando os comentários de vocês sobre xenofobia e achei curioso, porque meu pai contava que a avó dele, uma portuguesa legítima, tinha certa implicância com os brasileiros, mesmo vivendo aqui no Brasil. Eu, pessoalmente, não tive muito contato com portugueses; tenho vizinhos portugueses, por exemplo, e todos são muito amáveis. Poucos, ao longo da vida, me trataram mal. Mas, logicamente, estou no meu país, e eles no país dos outros, então a dinâmica muda.
Também não conheço Portugal. Estava planejando, após resolver minha documentação, ir morar lá, mas é uma decisão que preciso analisar com cautela.
Portugal e Brasil mantêm uma relação que eu descreveria como a de uma família com um passado complicado, mas laços fortes. No final do século XIX e início do XX, Portugal via o Brasil como um destino de emigração e uma espécie de irmão mais rico do Atlântico Sul. Pelo que pesquisei, cerca de 1,5 milhão de portugueses emigraram para o Brasil, principalmente para o Rio de Janeiro, São Paulo e o Nordeste.
Acredito que muitos deles tenham sofrido preconceito aqui, embora talvez não tanto quanto os brasileiros sofrem atualmente em Portugal. A história é curiosa, e eu me considero leigo no assunto, mas o tema desperta muito meu interesse. Gostaria de compreender melhor as raízes dessa xenofobia, que parece persistir mesmo entre povos com tantas afinidades culturais e históricas.
@LuanParanhos , na minha (absolutamente leiga e empírica) opinião, as desculpas usadas pelos xenófobos ao longo dos tempos não são sempre as mesmas. No passado houve outras expressões de xenofobia (italianos que moravam no Brasil na durante a segunda guerra, ou japoneses que moravam nos EUA, sofreram perseguição, por exemplo, porque eram "inimigos"). Assim, não vou abordar o passado (seria papo para dias), falo apenas do hoje.
Hoje existem (de novo, na minha opinião) duas raízes principais para a xenofobia: a "religiosa" (uso aspas porque ela não é BEM religiosa, é política/econômica/busca de poder disfarçada de religiosa, mas isso é outro tema que não tem nada a ver com Brasil e Portugal entre si) e a baseada em percepção de "superioridade" de um povo sobre o outro, seja por questões socioeconômicas, seja por questões culturais, seja por simples e puro preconceito.
Mas essa "superioridade", além de ser uma crença falsa, é uma faca de dois gumes. Pois, vejamos:
Os Portugueses são tidos, em boa parte da Europa ocidental, como os primos pobres, menos desenvolvidos e menos educados (NÃO estou dizendo que são, por favor, estou dizendo que existe este PRECONCEITO no resto da Europa ocidental). Um exemplo clássico é a França, onde há uma razoável imigração portuguesa. Não vou dizer que existe xenofobia ativa com os portugueses por lá, pois os xenófobos franceses tem outras culturas e etnias como alvo na frente da sua fila de ignorância, mas há preconceito claro. Um exemplo forte é um primo distante meu que nasceu na França de pai português e mãe francesa, e fez piadas uma vez enquanto conversava comigo, piadas que não me pareceram só piadas, mas a opinião dele: que os portugueses em França trabalhavam em empregos que exigiam pouco estudo, que as mulheres não se arrumavam, que os homens eram mal educados, etc. Veja bem, ele é FILHO de português, mas ecoava o preconceito que uma parte dos franceses têm com eles porque nasceu lá. Falava até mesmo do pai dele em tom jocoso...
Daí, pegamos os brasileiros em Portugal... Somos o que, para parte deles? Mal-educados, subdesenvolvidos, menos preparados, "falamos errado", etc, etc.
Agora, aqui no Brasil, qual a opinião dos xenófobos brasileiros (eles existem aos montes) não só sobre estrangeiros de países da América Latina, mas também sobre BRASILEIROS de estados menos ricos? Pois é, a mesma coisa. E tenho certeza de que nestes países sul-americanos também existe preconceito com outros povos, com as mesmas desculpas.
Em suma: a xenofobia é a necessidade de diminuir um outro grupo de pessoas para se sentir um pouco melhor do que se sente; é que nem aquele colega incompetente do trabalho que precisa fazer sua caveira para parecer menos incompetente. E é por isso que ela é tão facilmente manipulada pelos Venturas, Trumps, Farages e afins, pois é muito mais fácil inventar um Judas para o povo que sofre malhar do que encontrar soluções reais para os sofrimentos desse povo.
CLARO que estou sendo reducionista. CLARO que existem outras questões práticas e reais que podem impactar o sentimento de um povo em relação aos estrangeiros que moram no "seu" país. Mas, em 99% das vezes, há uma poeira de realidade que é transformada numa montanha de mentiras por interesses políticos e econômicos. E, em minha opinião, é isso o que tem acontecido: os imigrantes são o bode expiatório de um país que tem salários baixíssimos perante seus vizinhos, governos sucessivos que não atacaram os problemas como deveriam, que é um país eminentemente agricultural num mundo tecnológico, e que tem um partido de gente MUITO sagaz e sem qualquer escrúpulo que distorce todas essas justas insatisfações e as utiliza como arma, colocando a culpa nos sul-asiáticos, nos Roma (que os xenófobos chamam de "ciganos" em tom depreciativo) e nos brasileiros. Afinal, o objetivo é o poder pelo poder, não para efetivamente fazer algo, até porque são incompetentes por natureza e não conseguem compreender que não há soluções simples para problemas complexos.
@LuanParanhos
Estou acompanhando os comentários de vocês sobre xenofobia e achei curioso, porque meu pai contava que a avó dele, uma portuguesa legítima, tinha certa implicância com os brasileiros, mesmo vivendo aqui no Brasil. Eu, pessoalmente, não tive muito contato com portugueses; tenho vizinhos portugueses, por exemplo, e todos são muito amáveis. Poucos, ao longo da vida, me trataram mal. Mas, logicamente, estou no meu país, e eles no país dos outros, então a dinâmica muda.
Eu sempre frequentei as associações e festas da comunidade portuguesa em SP, era sócio e frequentava na infância e adolescência a Associação Portuguesa de Desportos (a famosa Lusa, no bairro do Canindé). Nunca vivi em Portugal, apenas fiz viagens a turismo. O que posso dizer é que, como na maioria dos lugares, a grande maioria das pessoas é simpática, te recebe bem, não é preconceituosa e muitas vezes dizer que é do Brasil vira um bom "quebra gelo" para uma conversa.
O problema é que vivemos em um tempo em que a minoria que é preconceituosa, que antes se sentia constrangida e guardava seu ódio para si, está se sentindo encorajada a sair do armário.
A violência física é apenas o exemplo mais extremo, mas uma pessoa xenófoba ou contaminada pelo discurso de ódio pode fazer coisas que podem ser desde a simples ofensa, que se resolve ignorando respondendo com ironia ou simplesmente levantando o dedo do meio, até coisas mais veladas mas que podem ser muito danosas como por exemplo mentir dizendo que o imóvel que você quer alugar já está fechado com outro inquilino, te preterir numa entrevista de emprego por conta de você "falar brasileiro", te colocar no final de uma "waiting list" para um agendamento médico, postergar indefinidamente seu agendamento para conseguir aquele documento que vc precisa para garantir seu emprego etc.
Te diria que no Brasil a maioria das pessoas, que são negras ou pardas, vive isso no dia a dia, mesmo sendo brasileiras, mas nós luso descendentes, e outras da minoria branca no Brasil, não somos vítimas disso não notamos.
@andrelas @LuanParanhos
Agora, aqui no Brasil, qual a opinião dos xenófobos brasileiros (eles existem aos montes) não só sobre estrangeiros de países da América Latina, mas também sobre BRASILEIROS de estados menos ricos? Pois é, a mesma coisa. E tenho certeza de que nestes países sul-americanos também existe preconceito com outros povos, com as mesmas desculpas.
Não tinha lido seu post. Acho esse exemplo perfeito. Em SP, durante minha infância e adolescência, havia um preconceito enorme contra migrantes nordestinos, que os xenófobos de plantão chamavam de "baianos" independente de serem de Salvador, de Recife ou Fortaleza. É insano pois só na cabeça de alguém com a cognição extremamente prejudicada dizer que uma pessoa é da terra que nos deu Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Jorge Amado e Castro Alves possa ser ofensivo, mas xenófobos não prezam pela racionalidade.
Outro exemplo que acho que vale citar, me lembro que na minha infância e até na adolescência eu evitava dizer para amigos da escola que era de família portuguesa, por sempre havia aquela coisa pejorativa de que "português é burro", tão arraigada nas piadas que eram populares no passado. Parece uma bobagem, mas só o fato de uma criança ter vergonha de dizer a origem da família diz muito.
Enfim, racismo e xenofobia infelizmente sempre estiveram entre nós o problema é que, se por um breve período ela era vista como algo socialmente reprovável, agora voltou a ser socialmente aceitável e está sendo ativamente estimulada. Isso é perigoso e não termina bem.
https://www.publico.pt/2025/11/08/publico-brasil/noticia/so-resta-ir-dormir-porta-aima-pianista-brasileira-cujos-dados-sumiram-2153888
“Só resta ir dormir na porta da AIMA”, diz pianista brasileira, cujos dados “sumiram”
Com 38 anos de carreira em Portugal, a professora Lilian Kopke denuncia a lentidão dos serviços de imigração e o aumento da hostilidade aos estrangeiros.
A história da pianista e professora Lilian Kopke, 60 anos, em Portugal começou em 1987, quando decidiu deixar São Paulo para estudar música em Lisboa. Trinta e oito anos depois, ela segue lecionando no Conservatório Nacional, mas enfrenta novamente entraves burocráticos e sociais que encontrou ao chegar. O caso foi revelado pelo site Ópera Mundi e o PÚBLICO Brasil conversou com Lilian.
Quase quatro décadas depois, a professora vive uma sensação de impasse. Seu título de residência venceu em 15 de janeiro de 2025, e ela diz que a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) não localizou os dados dela, para renovar o documento. “Eles já nem aceitam mais os meus pedidos. Os telefones não funcionam e, pelo e-mail geral, ninguém responde. Não há com quem falar. Só resta dormir na porta da AIMA — e eu não vou fazer isso”.
Sem o documento válido, Lilian enfrenta vários transtornos, como por exemplo estar impedida de deixar o país, porque corre o risco de ser barrada no aeroporto. “Sair de Portugal é um problema, porque só tenho o passaporte brasileiro. O país vai me exigir a passagem de volta e ao chegar aqui não há como explicar na imigração que a AIMA perdeu meus documentos”.
“A situação atual é bem parecida com os anos 1980”, compara. “Vim estudar, mas não consegui o visto de estudante no Consulado Português em São Paulo, mesmo tendo feito o pedido um ano antes. Entrei como turista e precisei iniciar outro processo de visto já em Portugal”.
Em 1988, Lilian começou a trabalhar como pianista no Conservatório Nacional, mas o contrato foi interrompido porque ela possuía apenas passaporte brasileiro. A regularização só ocorreu graças à ajuda da Embaixada do Brasil. “Na altura éramos pouquíssimos brasileiros vivendo aqui. Tive ajuda direta do embaixador Alberto Costa e Silva, que acelerou meu processo no SEF.”
Com isso, conquistou a autorização de residência permanente, renovável a cada cinco anos e o Estatuto de igualdade de direitos e deveres, que lhe permite ocupar cargos públicos. Mesmo assim, o preconceito persistiu. “Passados cerca de 8 ou 9 anos, com contratos anuais, chegou minha vez de entrar para o “quadro da escola”. Outra vez problema: não levaram em consideração o Estatuto e justificaram a minha ausência nas listas de colocação no quadro da escola, pelo fato de ser brasileira. Outra vez recorri à Embaixada. Deu certo”.
Apesar das dificuldades, Lilian mantém o vínculo com Portugal, mas diz que vai regressar ao Brasil. “Eu vou voltar, e vai ser bom. Claro que as coisas podiam ter corrido de outra forma, mas nunca quis ter a nacionalidade portuguesa”. A professora explica que optou por permanecer sob o Tratado de Porto Seguro, que prevê o estatuto de igualdade de direitos e deveres para os brasileiros que vivem em Portugal e portugueses que vivem no Brasil. “Escolhi viver aqui sem pedir a nacionalidade porque sempre senti que é muito difícil ser totalmente aceito. Você é de fora e vai ser sempre de fora”. Mesmo após décadas no país, ela sente uma vigilância velada. “Quando fui diretora do Conservatório Nacional, senti que podia estar naquele cargo, mas era policiada. É um confiar, mas desconfiando”.
Ao longo de quase quatro décadas, Lilian construiu uma trajetória na área da música. Trabalhou em conservatórios de Almada, Setúbal e Lisboa, além de colaborações com escolas de dança, teatro e grupos artísticos. “Foi desafiador chegar sozinha a Portugal, sem família e sem conhecer ninguém. Trabalhei muito, fiz amigos e sou muito grata pela minha vida profissional aqui”. Licenciada em música no Brasil e pós-graduada em administração escolar em Portugal, ela soma quase quatro décadas de ensino e produção cultural.
Xenofobia
As experiências positivas, porém, convivem com momentos de dor. Lilian relata episódios de xenofobia, tanto pessoais quanto dirigidos aos filhos, nascidos em Portugal. “Portugal tem um marco: antes e depois do crescimento da extrema-direita. Antes, as pessoas não se sentiam à vontade para expressar esse sentimento horrível. Hoje, ficou normalizado”.
Um dos momentos mais duros foi um e-mail ofensivo recebido de um colega, com comentários depreciativos sobre o “terceiro mundo”. “Era o tipo de xenofobia aristocrática, onde o homem europeu é o máximo da perfeição e todo o resto é inferior. Entrei com um processo, mas foi arquivado, porque aqui a xenofobia não é crime”.
Segundo Lilian, o cenário se agravou. Ela diz, por exemplo, que há três anos seria impensável ver um cartaz na rua dizendo “Isto aqui não é Bangladesh’”. Entretanto, mesmo diante do desencanto, Lilian acredita que a sociedade portuguesa pode evoluir. “Vai levar tempo para as pessoas perceberem que o problema delas não é o imigrante, e sim a saúde, a habitação, as grávidas que têm filhos nas ambulâncias e a dependência do turismo”.
@andrelas poxa, quase 40 anos vivendo em Portugal... Um absurdo que tenha que passar por isso. Dá pra dizer com certeza que é mais portuguesa do que brasileira...
Agora, cada um tem suas próprias razões, mas ela tem direito a tirar a cidadania por tempo de residência, e não passar por tudo isso...
@LeoSantos
Eu vi uma matéria sobre ela em um jornal brasileiro.
Concordo que ela poderia ter pedido cidadania antes, mas como vc disse: cada um tem suas razões para querer ou não. Salvo engano, se ela pedir nacionalidade por tempo de residência agora, terá problemas na consulta a entidades externas pois está “ilegalmente” em Pt.
Acho o Estado português especialmente covarde e cruel por fazer as pessoas cairem na ilegalidade quando estão, mesmo com muito sacrifício, diligentemente tentando manter a situação regular.
@andrelas a Dra. isabel Comte é provavelmente a maior autoridade em direito de cidadania portuguesa, gostei muito dos argumentos.
@LeoSantos, sim, muito bons. Outro detalhe da matéria é que aparentemente o prazo decisório do PR ainda não começou a contar porque a lei ainda não foi enviada oficialmente a ele.
A matéria diz que ele tem 20 dias para decidir, mas este é o prazo decisório para promulgação ou veto. O prazo para decidir se manda ou não para análise do TC é, até onde sei, de 8 dias, a contar da data oficial de recebimento da lei, que ainda não ocorreu.
Bom dia, segue estado do serviço final mês de Outubro 2025 Conservatoria dos Registos Centrais.
Lendo a matéria apontada pelo @andrelas, esse trecho me deixou preocupado, pois não havia visto essa discussão:
"Outro ponto abordado na carta refere-se à atribuição da nacionalidade originária aos netos de portugueses, que passa a depender de condições semelhantes às exigidas a estrangeiros que pedem a naturalização, como a residência em Portugal."
Isso realmente existe? Netos vão precisar morar em Portugal?
Um absurdo, já está difícil pedir visto para residência, ou seja, um meio de barrar todas as possibilidades do neto ter direito, que já é visto com pouco caso. Decepcionada!
@Matheusrps netos não vão precisar morar em Portugal.
O texto ficou ambíguo, mas o que a reportagem diz é que novas exigências serão adicionadas à nacionalidade pelo artigo 1 al. D, atribuição para netos, assim como é exigido para a naturalização; como a por tempo de residência. As exigências seguem abaixo; note que morar em Portugal seria a alínea b) que não está inclusa para netos:
c) Comprovarem, através de teste ou de certificado, conhecer suficientemente a língua e a cultura portuguesas, a história e os símbolos nacionais;
d) Conhecerem suficientemente os direitos e deveres fundamentais inerentes à nacionalidade portuguesa e a organização política do Estado português;
e) Declararem solenemente a sua adesão aos princípios fundamentais do Estado de direito democrático;
f) Não terem sido condenados, com trânsito em julgado da decisão judicial, com pena de prisão igual ou superior a 2 anos, por crime punível segundo a lei portuguesa;
g) Não constituírem perigo ou ameaça para a segurança ou a defesa nacional, nomeadamente pelo envolvimento em atividades relacionadas com a prática de terrorismo, criminalidade violenta, especialmente violenta ou altamente organizada;
h) Não sejam destinatários de medidas restritivas aprovadas pela Organização das Nações Unidas ou pela União Europeia, na aceção da Lei n.º 97/2017, de 23 de agosto;