Como funcionavam os sobrenomes?
Encontrei um assento e gostaria de entender qual seria o sobrenome dessa pessoa, já que no registro apenas aparece o primeiro nome.
Sei que aparecem os nomes completos dos pais, mas como se chamaria o filho? Ele poderia optar por qualquer sobrenome após a maioridade? Me ajudem por gentileza.
Isso é importante pois, meu bisavô ao chegar no Brasil parece ter mudado o sobrenome, não sei por qual motivo, talvez para se esconder de alguém.
Nome conhecido aqui no Brasil: Augusto Batista Saraiva (ou Saraiva Batista, ele assinava dos dois jeitos.
Como não temos quase nenhuma informação, eu estimei a data de nascimento pelo ano da morte e cheguei a 1898, então encontrei um esse registro com o nome de Augusto. Entretanto, o sobrenome da mãe é Saraiva no documento, mas o do pai é Vaz Ferreira (ou Ferreira Vaz, aparece dos dois jeitos).
Teria alguma chance de ser ele? Alguém que entende bem do assunto pode me dar uma luz? Muito obrigado.
Comentários
@joaov
Se chama "fixar" o sobrenome. Normalmente acontecia no primeiro ato civil da vida adulta; poderia ser o casamento, a emissão de documento, ou de passaporte para emigrar, por exemplo.
Não se podia escolher qualquer sobrenome (se diz apelido em PT). Hoje em dia os pais que escolhem para os filhos ao nascer, mas as regras abaixo te dão uma ideia de que sobrenomes poderiam ser. O que chama mais atenção para nós aqui no BR é que podiam ser sobrenomes de antepassados - mesmo que os seus pais não os utilizassem. Isso gera o fenômeno de sobrenome desaparecer e reaparecer nas diversas gerações. Irmãos muitas vezes tem sobrenomes diferentes, pois cada um escolheu de um jeito. A ordem também podia ser qualquer uma:
Como escolher os apelidos?
Os apelidos estabelecem a ligação à família a que a criança pertence.
em regra, são escolhidos de entre os apelidos de ambos os pais, mas podem ser de apenas de um
também podem ser escolhidos apelidos que pertencem aos antepassados (avós, bisavós). Neste caso, e se não fizerem parte dos apelidos dos pais, é preciso fazer prova
se houver apelidos iguais, do pai e da mãe, estes podem ser repetidos de forma seguida ou intercalada
podem ser adicionados ou eliminados elementos de ligação (de, da, do, e)
no máximo podem ser escolhidos quatro apelidos (vocábulos simples ou compostos)
a ordem dos apelidos na composição do nome não obedece a nenhuma regra
Olhe no assento de batismo dessa pessoa se esse outro sobrenome aparece entre os dos 4 avós. Essa é a "prova" que a pessoa podia escolher esse sobrenome.
Há outra possível complicação. Acontecia de a pessoa, ao chegar ao BR, acrescentar um outro sobrenome "aleatório". Em geral por razões simples (homônimos), já era o quinto Manoel da Silva chegando no mesmo dia na imigração, Aí eles tacavam um outro nome (por exemplo, o lugar de onde vieram), ou de um padrinho etc. Eu achei um antepassado que, uns anos depois de viver no Brasil, fez uma declaração a praça em jornal que "ia passar a assinar Fulano de Tal e MaisTal, por problemas de homônimos".
Excelente explicação @CarlosASP ! Muito obrigado.
O único apelido que não aparece nos quatro avós é o tal "batista".
O "saraiva" aparece na mãe e na avó materna. Um detalhe interessante é que o avô paterno não aparece no assento (aparece incógnito).
Como eu poderia encontrar registros dos pais? Não tem nenhuma data de nascimento deles no assento.
Apenas um detalhe aqui:
Conforme o passar do tempo, essas regras foram se estabelecendo, porém muito antigamente não existia qualquer controle sobre isso.
Te dou um exemplo pessoal:
Quando estava procurando o assento de batismo do meu bisavô (XXX da Silva), encontrei o assento de dois irmãos dele (XXX dos Anjos) e (XXX Coelho).
Conversando com familiares mais antigos, disseram que o costume era registrar os filhos com o sobrenome (apelido) do padrinho, não sei se vinha de alguma ascendência espanhola, sei que era assim.
@joaov
Para cidadania, o importante é ficar claro que a pessoa do batismo é a mesma nas certidões dos seus descendentes brasileiros e que não é um homônimo. Em geral isso fica claro pela cadeia de nomes na filiação.
No assento de Augusto, consta algo sobre onde os pais foram "recebidos"? Recebido que dizer " se casou", Se tiver, pode procurar nessa freguesia o assento de casamento, onde muitas vezes aparece a idade dos noivos e com isso depois tentar achar os seus nascimentos. Se não consta, pode tentar nas freguesias onde nasceram os pais; era mais comum casar na da mãe, mas nem sempre.
Já tentou achar o passaporte que Augusto usou para emigrar? Sabe quando ele chegou, se veio já adulto ou como criança (nesse último caso, ele provavelmente aparece como dependente no passaporte do adulto)? É uma maneira de confirmar que nome ele havia adotado ainda em PT, caso tenha saído já como adulto,
https://cadevovo.wordpress.com/passaportes/
@LeoSantos obrigado pela dica! O padrinho dele tem o mesmo apelido do pai dele. Talvez fossem irmãos? Minha avó conta que Augusto tinha um irmão mais velho chamado Davi Batista Oliveira (justamente o nome diferente no final), procurei nos registros de anos anteriores e não encontrei nenhum Davi na mesma freguesia.
@CarlosASP foram recebidos na mesma freguesia. Vou procurar. Sobre os passaportes, fica um pouco complicado porque minha avó fala que em em 1920 ele já estava no Brasil, mas nessa época ele teria apenas 22 anos. Pensei ser muito novo para isso, mesmo assim olhei os passaportes de 1919 e nada encontrei. Agora estou com os passaportes até 1930 para olhar. Você acha que estou na direção certa? alguma dica? Obrigado!
@joaov
A idade para emigrar era comum na época. Pode tentar ver se acha a entrada dele ou no Rio ou Santos (a maioria entrou por esses portos, mas também há chegadas em portos do NE e N). Às vezes em alguma ficha de imigração ou outro documento consta a data de entrada no Brasil. De onde a família é no BR?
Os passaportes tinham uma validade curta, coisa de 3 ou 6 meses. Por isso, quando se sabe a data de entrada, fica mais fácil determinar o período de emissão. Comoconsta no link acima, nem todos os passaportes estão online; a dificuldade de busca varia de acordo com o distrito e ano de emissão.
Você já construiu a árvore da família no Family Search? É grátis.
Especialmente em casos como esse, com poucos dados, é importante "rechear" a árvore com o maior número possível de dados. Nomes e todas datas de nascimento (ano já ajuda), casamento e óbito que souber do bisavô, avô, seus tios, cônjuges, irmãos dessas pessoas etc. Quanto mais, melhor. O sistema do FS usa esses dados para tentar achar documentos de algum deles já indexados e também outras árvores que algum parente distante já possa ter feito (tem gente que acaba achando dados do português através de um tio-avô, um primo distante etc). O sistema vai aprendendo a tentar achar essas conexões conforme mais dados são inseridos.
Depois, se quiser, deixe o link para a árvore "recheada" aqui que ajuda o pessoal a procurar algo. Pode haver detalhes nos documentos lá que você não percebeu e alguém note e isso leva a pistas para aprofundar a pesquisa.
@joaov Eu acredito que era comum. Quando encontrei o registro de passaporte do meu bisa no arquivo distrital do porto ele tinha apenas 11 anos e sem acompanhantes, ele veio sozinho! E na folhas seguitnes tambem passaportes de criancas de 11,12,14 anos de idade.